Um problema novo, desconhecido, mas que pode se tornar muito sério nos próximos anos é o vício em jogos virtuais. Em Dois Vizinhos, região Sudeoeste do Paraná, há cerca de dois anos, Maria (nome fictício) enfrenta esse problema. O seu filho João (nome fictício) foi viciado no game League of Legends e, em virtude disso, perdeu o emprego, largou a escola e, muitas vezes, se auto-mutilou.
ATENÇÃO PAIS: Vício em jogo virtual fez com que menino se mutilasse |
"Esse é um jogo que vicia muito rápido. Eles começam a jogar e não podem sair de frente do computador. Eles jogam em tribos de cinco contra cinco, normalmente. Em alguns casos, na equipe que perde o duelo, o jogador mais fraco é punido e precisa pagar um castigo. Quando eu descobri que a situação estava mais agravada, meu filho estava com o peito todo cortado. Ele tinha feito desenhos com navalha. Depois, quando falei sobre a história, conheci um pai, lá do México, que o filho dele tinha 19 para 20 anos e se enforcou", disse a mãe.
Como o jovem trabalhava quando começou a jogar, conseguia manter o vício. "Ele ganhava bem. Lutamos e conseguimos uma portaria que proibia ele de entrar em qualquer lan house e apresentamos os papeis para todas elas. Mas, da mesma forma que ele parou de ir na lan house, começou a jogar na casa dos colegas. Eu não conhecia muitos deles, mas os que eu conhecia eu ia, procurava, mas raramente achava. Quando ele ganhou a conta do serviço, ficou sem dinheiro e começou até a furtar em casa", completa Maria.
A busca por solução passou pela promotoria, pela delegacia, pelo conselho tutelar, mas o jovem não conseguia largar o vício. O jeito foi procurar uma clínica de reabilitação. Mas aonde? "Como é um caso raro, um caso novo, foi muito difícil", destaca a mãe.
Solução em Campo Mourão
Depois de visitar três clínicas, a solução, ironicamente, surgiu pela internet. Navegando na rede, a mãe encontrou uma clínica em Campo Mourão. "Liguei para a clínica, conversei com o psicólogo e gostei da forma que ele me atendeu. Ele disse que nunca tinha atendido caso semelhante, mas que era para a gente ir conhecer a clínica. Fiquei três dias conversando com eles, até que meu filho sumiu de casa numa quinta-feira. Já tinha falado com a clínica que a hora que eu achasse ele, ia colocar no carro e levar para lá. No domingo, nós se juntamos e fomos procurar ele. Um amigo nosso achou e trouxe para casa. Eu disse para o João nem tomar banho porque a gente ia ver o avô dele em Foz do Iguaçu. Ele entrou no carro e nem deu bola", relata a mãe.
Ele estava desde quinta com a mesma roupa, com o cabelo gigante e ele sempre se cuidava antes de começar a jogar", completa.
Em Dois Vizinhos, ela não conseguiu encontrar ajuda. "Uma psiquiatra falou que era temperamento comportamental, outra disse que tinha que dar uns tapas e a outra que era falta de amor. Como falta de amor? A gente conhece a família, teve o mesmo amor para todos os filhos, ele era um menino bom, participativo, querido, educado. Essa atitude dela mandar para a clínica foi desesperada", conta a pastora Zelir Soprano, que está auxiliando a família.
Exemplo
O menino já demonstra grande melhora depois de três meses de tratamento e, agora, a mãe quer que o caso se torne um exemplo. "Vendo o que está acontecendo comigo, muita gente está ficando alerta. Muitos me pedem qual é o jogo. Uma mãe até tirou o tablet do filho porque percebeu que ele estava jogando o mesmo jogo. Eu fico feliz, de certa forma, porque de algum jeito a gente está abrindo os olhos de alguns pais. A gente não vai mais viver sem o meio de comunicação e a internet, só que temos que saber usufruir disso", aconselha Maria.
Ajuda da igreja
A grande parceira da família, durante toda essa luta, é a pastora Zelir Soprano, que elogia a atuação da mãe para enfrentar o problema. "Ela percebeu e, muitas vezes, acabou até quebrando celular do filho, jogando fora, destruindo. Hoje os pais deram muita liberdade para os filhos. As crianças com cinco, seis anos mexem num celular, nos jogos, com facilidade que o adulto não tem. Eles vão certinho onde tem jogos. Eu acho que o pai, a mãe, o avô ou avó que dá um celular para uma criança de cinco, seis anos, está privando a liberdade dessa criança. Ela vai deixar de correr, jogar bola, brincar de bicicleta, de boneca. A criança fica presa no celular. A mentalidade se volta para dentro de uma máquina. Às vezes o pai fala que prefere a criança jogando porque não está na rua, mas precisa ver o que está acontecendo. As crianças acabam se privando de amizade, de famílias", aconselha a pastora.
Doações
A grande dificuldade, no momento, é conseguir pagar a clínica. A família está aceitando doações que são feitas, diretamente para a clínica. Quem está intermediando as doações é a pastora Zelir. "Nosso maior dilema agora é pagar a clínica. Os dias se passaram, a gente está com uma dificuldade muito grande para arrecadar esse dinheiro. A clínica precisa receber. Eles foram muito legais, aceitaram o jovem sem que a gente desse garantia de dinheiro. Precisamos de ajuda, de toda a boa vontade de pessoas que queiram ajudar. Para os empresários, essa ajuda pode ser revertida em abatimento de imposto de renda. Ele é um futuro pai de família e temos encontrado dificuldades. A gente prefere não pegar dinheiro em mãos, pede para enviar direto para a clínica e o que a gente precisa é que as pessoas forneçam um comprovante mostrando quanto foi ajudado para que a gente saiba quanto devemos ainda. A prefeitura depositou R$ 2 mil, mas ainda faltam R$ 12 mil", conta a pastora.
Se, por ventura, sobrar dinheiro, ele será doado para uma entidade. "Pensamos até em fazer um evento para abordar esse assunto. Muitos pais estão vivendo isso agora. É um problema que não está nas ruas, está dentro de casa", conclui. Quem quiser ajudar ou saber mais sobre o assunto pode procurar a pastora pelo telefone 46-3536-4449 ou 9103-1760.
COM iNFORMAÇÕES DO JORNAL DE BELTRÃO
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