O positivismo, quem diria, tirou 1 milhão de reais de um professor aposentado
______________________________________________
Foi uma cena patética, daquelas que deixam o espectador sem saber se cai na risada ou derrama uma lágrima. Num instante, Jair Hermínio da Silva tinha nas mãos o prêmio máximo do programa Show do Milhão, apresentado por Silvio Santos. Bastava-lhe acertar uma questão simplicíssima – quantas letras contém o lema positivista inscrito na bandeira nacional. Vinte segundos depois, esgotado o tempo para que ele respondesse, o auditório vinha abaixo. O professor aposentado de 57 anos, que havia passado incólume por uma bateria de dezoito perguntas, muitas delas cabeludas, e recebera por isso o apelido de "homem-enciclopédia", se confundiu e errou. Em vez de "Ordem e Progresso", ele pensou em "Ordem ou Progresso". Em vez de quinze, contou dezesseis letras. Quando, com cara confiante, proferiu sua resposta, a primeira a reagir foi sua amiga Maria José de Camargo, a Zezé, que torcia por ele da platéia. "Perdemos tudo, Jair!", gritou ela. Como prêmio de consolação, o homem-enciclopédia levou 300 reais. Saiu, é claro, inconsolável.
Desde a estréia do Show do Milhão, em 1999, apenas outros seis concorrentes chegaram ao ponto a que Jair chegou. Na hora H, todos depararam com perguntas mais difíceis que a dele. Optaram por não responder e embolsaram 500.000 reais. O homem-enciclopédia acredita que foi a facilidade do desafio que acabou por traí-lo. "Era óbvio demais. Fiquei eufórico e me dei mal", conta. A psicoterapeuta Lídia Aratangy concorda. Segundo ela, seu lapso foi típico de quem passa por situações de tensão. "Basta a pessoa se sentir em segurança para relaxar e perder o foco", diz Lídia. "Os esportistas conhecem bem essa situação."
Zezé: a amiga levaria um terço da bolada |
Jair inscreveu-se no programa por insistência de Zezé e de outra amiga, Ana Genedir Romanini – a Didi. Se ele vencesse, os três dividiriam o prêmio em partes iguais. Como aposentados, recebem de 1.800 a 2.000 reais por mês. Jair mora numa casa alugada em Guaxupé, no interior de Minas Gerais. Ensinou inglês e português por 36 anos e hoje ocupa o seu tempo com leituras variadas. Apesar do apelido de "homem-enciclopédia", ele só tem um livro desse tipo em casa. Adquiriu-o juntando os fascículos que vinham encartados num jornal. Jair é solteirão convicto. Diz que namorou pela última vez há trinta anos, por prezar demais sua liberdade. Com o prêmio do Show do Milhão, planejava dar uma volta ao mundo. "Eu adoro viajar", diz ele. A Zezé também, Jair...
Por Ricardo Valladares - Veja
Assista a entrevista com o Homem-enciclopédia:
Assista a entrevista com o Homem-enciclopédia:
0 Comentários