Veja a reportagem do jornal Impacto:
Transações em dólar, empréstimos a sobrinho e depósitos na conta da mulher – Requião esqueceu contabilidade em um cofre no Palácio das Araucárias em 2010
Trinta e sete folhas, entre documentos, recibos e anotações de próprio punho, esquecidas numa gaveta de um cofre no Palácio das Araucarias em 2010, revelam um pouco da contabilidade pessoal do senador Roberto Requião (PMDB) e trazem à luz detalhes de como ele, Requião, operava seu caixa dois entre 2003 e 2010.
São cópias de empréstimos e pagamentos em dólares no Brasil e no exterior, certidões de transações imobiliárias, recibos assinados por terceiros e pela mulher do senador, Maristela Requião, cópia de depósito na conta pessoal de Maristela e o envolvimento de um secretário direto de Requião nos negócios da família do senador.
Toda a papelada, que será entregue ao Ministério Público, aponta que Requião pode ter cometido uma série de crimes se a origem da dinheirama não for explicada. O dinheiro, quase sempre em dólares, era usado em pagamentos, empréstimos e transações imobiliárias. Há ainda a suspeição que pelo menos uma das operações serviu para lavar ou esquentar dinheiro desviado.
Conta de Maristela – É o caso do depósito de R$ 204.287,79 na conta pessoal de Maristela Quarenghi de Mello e Silva, feito pela Swell Construções e Incorporações Ltda. A empresa pertence ao então secretário de Comunicação de Requião, Airton Pissetti. Além do depósito na conta do banco HSBC, há um recibo com assinatura de Maristela. O cheque depositado era referente à “devolução do saldo total dos investimentos no Ed. Praia do Rosa”.
Há ainda outros três papeis, com relatório de vendas do edifício, em quais aparecem outras anotações de montantes – R$ 435.907,05 e R$ 213.025,58 – parte saldada com um carro (R$ 45.000,00) e o restante em reais (R$ 168.025,58) ou em dólares (US$ 56.000,00). As anotações são do próprio punho de Requião.
Nesse caso, o mais interessante é que a mulher de Pissetti, Mirtes Maciel Pissetti, é também proprietária da Swell Construções e foi assessora de Maristela no MON (Museu Oscar Niemeyer). Maristela presidiu a Oscip que administrava o museu. Ela e Mirtes tinham em comum o gosto de viajarem juntas para Europa.
AP em SC – Nas anotações de Requião, de próprio punho, também tem a compra do apartamento 1.102, do Edifício Tour Royalle Residence, na Avenida Atlântica, número 40, no Balneário Camboriú em Santa Catarina. O apartamento pertencia à mãe de Maristela, Lourdes Quarenghi, morta em 2002, e ficou, junto com outros dois imóveis (um apartamento e uma casa) em Curitiba, para a partilha entre Maristela, a irmã Mariedite e o sobrinho Andric.
Requião fez a soma da avaliação dos imóveis – R$ 400 mil do apartamento em Camboriú, R$ 150 mil do apartamento em Curitiba (na partilha, ficou com Mariedite) e R$ 173 mil da casa em Curitiba (ficou com Andric) – e segundo seus cálculos, ficou devendo R$ 91 mil para Mariedite e R$ 68 mil para Andric.
Em 5 de novembro de 2003, Mariedite recebeu a primeira de três parcelas de R$ 30 mil. Em 6 de dezembro de 2002, Mariedite recebeu US$ 10 mil e assinou um recibo, redigido por Requião, em Nova York (EUA). Em 10 de março de 2004, em Curitiba, Mariedite recebeu mais US$ 10 mil. “Quitado totalmente”, escreve Requião em caixa alta nas suas anotações.
Andric Quarenghi recebeu seus R$ 68 mil em quatro parcelas: R$ 5 mil em 28 de novembro de 2003, R$ 20 mil em 6 de janeiro de 2004, R$ 10 mil em 21 de abril de 2004. “Estou guardando US$ 10 mil para o Andric. Está no cofre pequeno”, escreve Requião nas suas notas.
Evasão – O que chama atenção na triangulação imobiliária de Requião, além da suspeição da origem do dinheiro para o pagamento do apartamento, dos US$ 30 mil (pagou parte da dívida nos EUA), é que o próprio Requião avaliou o apartamento em R$ 400 mil em 2003, e o declarou na sua campanha em 2010 na justiça eleitoral, por R$ 120 mil. E hoje, o imóvel de 238 metros quadrados, está avaliado em R$ 1,4 milhão e não aparece na declaração de bens de Requião entregue no TRE em 2014.
Ainda de acordo com as anotações de Requião, os recibos, feitos a mão, registrados com datas e com o local sendo como Nova York e pagos em dólar, valores que chegam aos US$ 30 mil dólares, configuram em crime de evasão fiscal, artigo 22 da lei 7.492, e pode ser investigado pelo Ministério Público Federal por evasão de divisas, crime federal, por efetuar operação de cambio não autorizada.
Dólar nepote – A contabilidade de próprio punho de Requião mostra que entre agosto de 2004 e julho de 2005, ele fez uma série de três “empréstimos” ao sobrinho João Arruda (PMDB), atual deputado federal e candidato à reeleição, que totalizaram U$ 43,5 mil. Em 29 de julho de 2004, Arruda assinou um recibo de US$ 8 mil “para pagamento de lua de mel”.
Em 25 de agosto de 2004, consta outro recibo de US$ 33 mil assinado por João Arruda. “Retirei 25/8/ 2004 (do dinheiro de Roberto) (mala da Lúcia)”. “+ US$ 8 mil. Total US$ 41 mil (Lúcia deve p/Roberto)”. Em 14 de maio de 2005, Arruda assinou mais um recibo de empréstimo no valor de US$ 2,5 mil.
Nas anotações, o dinheiro foi retirado da “mala da Lúcia”, uma referência a irmã de Requião, Lúcia Arruda, ex-presidente da Provopar e mãe de João Arruda. Mais uma vez, as anotações feitas pelo próprio punho de Requião, indicam que a irmã deveu um total U$ 41 mil dólares, emprestados ao sobrinho, em uma transação feita de forma impessoal sem declaração.
Troco dólar – Nas papeladas esquecidas ainda sobram procurações, certidões de imóveis, contratos, recibos de quitações de dívidas, entre outros documentos que desmascaram as contas que o ex-governador, aparentemente, escondeu da Receita Federal e dos paranaenses.
Em um dos apontamentos, Requião anota o troco dos dólares de várias viagens ao exterior. “Roberto, US$ 3.642 – troco da Europa; Roberto, US$ 1.880 – troco Buenos Aires; Maristela, US$ 800 – troco Buenos Aires; US$ 3.000 – troco Paris; US$ 700 – do Maurício”. Em seguida: “Paguei Mariedite última parcela do apartamento Tour Royalle de Camboripu (US$ 10.000). Recibo de 91.000 reais assinado por Dite”.
Fonte: Jornal Impacto e Fabio Campana
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