Na Bahia, Lula discursou e fez a sua interpretação sobre uma passagem bíblica:
- Bobagem, essa coisa que inventaram que os pobres vão ganhar o reino dos céus. Nós queremos o reino agora, aqui na Terra. Para nós inventaram um slogan que tudo tá no futuro. É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico ir para o céu . O rico já está no céu, aqui. Porque um cara que levanta de manhã todo o dia, come do bom e do melhor, viaja para onde quer, janta do bom e do melhor, passeia, esse já está no céu. Agora o coitado que levanta de manhã, de sol a sol, no cabo de uma enxada, não tem uma maquininha para trabalhar, tem que cavar cada covinha, colocar lá e pisar com pé, depois não tem água para irrigar, quando ele colhe não tem preço. Esse vai pro inferno - discursou, para delírio das cerca de mil pessoas que lotavam o auditório de um hotel de Salvador, onde foi realizado o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar da Bahia 2011/2012.
Pouco antes de falar, recebeu de presente uma garrafa de cachaça e outros produtos de cooperativas. Como se ainda estivesse ocupando a cadeira de presidente da República, Lula fez um balanço de suas realizações na área da agricultura familiar e recomendou que sua sucessora Dilma Rousseff prossiga com "a política de distribuição de renda no campo".
O ponto alto do seu discurso de 15 minutos - que seria apenas uma rápida saudação - foi quando resolveu criticar indiretamente o versículo 25, capítulo 18, do Evangelho de São Lucas, a parábola que Jesus fez sobre as dificuldades do rico alcançar o céu e a facilidade do pobre chegar lá ("Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus"). Ele insistiu:
- Queremos que todo mundo vá pro céu, agora. Queremos ir pro céu vivo. Não venha pedir para a gente morrer para ir pro céu que a gente quer ficar aqui mesmo - disse.
Segundo a Bíblia, o consolo dos pobres que levam uma vida terrena dura e de privações seria obter os "tesouros espirituais" quando morresse.
Lula acusa oposição de não ajudar os pobres
Antes de falar aos agricultores, Lula havia repetido sua velha acusação feita à exaustão nas inaugurações e eventos do ano passado: a tese segundo a qual os governantes que o antecederam não ajudavam os pobres:
- Esse país era governado para um terço da população, era uma cultura governar apenas para esse terço, e dois terços já eram considerado como fatalidade de Deus, que tinham que ser pobres, e nós provamos o seguinte: dê oportunidade que o pobre não quer ser pobre, quer ser classe média. E, se brincar, ele quer ser rico - falou, para depois argumentar: - Deveria acabar com essa bobagem de achar que pobre gosta de comer mal, gosta de comprar produto de segunda, que gosta de andar descalço, sem dentes na boca.
Além de pequenos agricultores estavam presentes vários empresários do agronegócio, o governador Jaques Wagner, o ministro do Desenvolvimento Agrário Afonso Florence, senadores, deputados, lideranças sindicais, dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), militantes do PT e partidos coligados. Dois dirigentes de entidades ligadas a pequenos agricultores que saudaram Lula como "o presidente que mais ajudou a agricultura familiar" insistiam em tratá-lo como ocupante da cadeira presidencial e não ex. Um deles, Rosival Leite, da Fetrafi-Bahia, clamou Lula de "a maior liderança nacional desse país". Após ser ovacionado, no evento, o ex-presidente deixou Salvador em direção a Recife para completar a "agenda" do dia.
Fonte: O Globo
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